30 de out. de 2010

Irmãos atormentados. Cartas, palavras ao vento!

Meu sangue, correspondência de seres amaldiçoados na infância; Dois irmãos.

Minha tristeza é profunda ao reler o que meu irmão me escrevia, trocávamos e-mails de monte, sempre percebia que eu ficava cada vez mais isolado dele, pois ele procurava se distanciar de mim constantemente, mas ele é a pessoa que eu guardo como parte de uma possível família boa,resquícios de minha nebulosa pequenez infantil, e agora tenho isso, ele a morrer-se no Hospital de Santo André. Lágrimas escorrem sem parar em meu rosto nessa madrugada triste. Nossa irmandade é o que eu mais possuo de valioso, o afeto familiar necessário à existência vem dele que junto a mim carregamos o mundo.

Minha dor é profunda que meu desejo é arrancar o coração.
Meu irmão me escreveu: ‘’ A cada suspiro de tristeza estivemos encobertos nas amargas dúvidas da vida,
Cada um preso em sua sombra,
Os dois acorrentados à mesma tortura,
Se um dia o sol brilhar de verdade em nossas vidas estejamos certos de que não importará para quem brilhe mais,
Porém os dois estarão na mesma satisfação,
Com lágrimas,
Sem lágrimas,
Estaremos unidos para sempre,
E toda aquela escuridão será deixada de lado,
E todos os opressores estarão enterrados em suas tragédias,
E nossa sepultura será esquecida momentaneamente,
Não importa a dor que crucifica,
O que importa é a quem podemos desabar e chorar sem medo,
A confiança e o amor de irmãos não podem se submeter aos flagelos da vida,
Pois nada derruba esses sentimentos puros e divinos...
A cada sombra eu estarei zelando por tua vida,
A cada queda eu estarei sendo resgatado por tua luz,
Junto por entre as aberturas seguiremos entre os corredores ignotos e alcançaremos a luz.. ‘’
Vejo em meu irmão um refúgio quase que divino e me é horrível deixá-lo no Hospital e que seguir só. E eu escrevi a ele:
‘’ Ai a poesia que existe entre nós;
Ai a vida que se esvai entre nós;
Ai a saudade que cresce entre nós!
Ai essas palavras que não expressam o que quero.

Ai lamúrias de um jovem com coração na mão;
Ai lamúrias de um jovem com medo disto que se ergue;
Ai lamúrias de um lamuriante a lamuriar:
L amor, lamúrias por estarmos cada vez mais longe!’’
Meu irmão querido, tua alma estando onde for gostaria que ela percebesse o cerne da questão: Nossas vidas são quase que complementares, acredito que não é por acaso que somos originários in lócus do mesmo útero. Te quero comigo.
Nossas correspondências anseiam e ilustram nosso ‘glorioso’ passado que nos traz inúmeras mágoas e ele me escreveu poemas em forma de demonstrar nossa cumplicidade triste, triste: ‘’
Vossa irmandade

Estou arrefecido em confronto com tais nostalgias,
Vossa irmandade está tirando o conteúdo antes da casca,
Não deves sofrer em nome de pequeninas lembranças e muito menos cobrir-te com aquelas minhas presenças suicidas,
A nostalgia é mais dolorida do que o presente vossa irmandade,
Estás confuso pensando que o passado é uma alegria,
Não está lúcido vossa irmandade?


Não me lembro de tantas coisas que insistes em lembrar-te,
Não quero trazer nada daquilo hoje para mim,
Estamos em pontas com sentidos destorcidos em uma só verdade vossa irmandade,
Vossa irmandade está virando ao avesso a realidade?
Agora era hora de contar-me alegrias minha irmandade,
Estou desconsertado com reações que deveriam ser ditas outrora enquanto nós adormecíamos,
Mas agora me parece tarde para estas sombras,
Deverias sangrar em outros motivos minha irmandade,
Eu estou inconsolado por conta de passados em presentes outrora futurísticos,
Trouxe-me apenas o amor sentimental já mostrado, mas esqueceste do presente feito por aquele passado vossa irmandade. ‘’
Discordamos em vários aspectos de nosso caminhar e de como havemos de continuar nossa batalha na vida. Sempre me disse que sou muito esperançoso e de bom coração, e escrevia a ele tentando mostrar que não era esperança, era algo que me movia, mas parece que ele não me entende, parece também que não estamos empenhados num mesmo objetivo como pretendíamos, oh céus! Que fazer?! As lágrimas vertem meu rosto e vou lembrando nossas palavras trocadas, sinto saudade imensa de nossos pequenos momentos juntos em nossa velha casa, escovávamos os dentes juntos, antes de dormir lá pelas tantas da madrugada, éramos nossa família, eu e ele, nós no mundo a se dispersar sem forças em busca de um objetivo comum, um pouco de paz e conforto! Disse a ele da saudade que sentia e isso resultou na poesia acima, daí disse a ele que:
‘’Consertar a si mesmo jamais será tarefa fácil meu caro, porém os dias nos lapidam conforme as necessidades que se emergem e temos que estar preparados.
Proteger os nossos creio ser o que de mais belo há nos humanos, nos últimos tempos venho pensando muito a esse respeito, todos erramos, a priori há mágoas e angústias, caso não se fizer nada pra mudar isso a posteriori será de arrependimentos; lamentos há pelos erros de quem esperávamos sabedoria, mas cest la vie como diriam os franceses. Situações tristissimas, sim, lastimáveis oriundas de nossos familiares, fugir disso nos levará cada vez mais ao cerne triste de ver e recusar-se a enfrentrar.
Não sei se seria arrastar-se por erros alheios, pois nem por nossos erros nos arrastamos, penso ser algo de especial, apenas isso! onde não deve-se perder todo encanto que pode haver, por menor que seja, creio ainda havê-lo.
''Meros devaneios loucos a me torturar'', mas nossa vida se constitui disso, só e sempre só a vida me é pior, creio sê-la à ti também. ‘’
Eu via possibilidades e guardava em mim a maior esperança que o homem pode manter dentro de si, ele não! Que bosta! Meu Deus ajude-me! Minha alma suplica a todo instante, estou perdendo minhas forças, estou exaurido fisicamente, não tenho o fôlego que já tive há um ano atrás, parece que nos últimos dias eu envelheci trinta, quarenta anos, mas guardo isso pra mim. Devo ser rocha inabalável, às vezes desmorono como nessa madrugada, sempre assim, só, eu e meus pensamentos mil.
Embora tivéssemos um ao outro nos isolamos cada vez mais, agora aparenta fragmentação de corpo e alma, ai Deus meu! Estou sôfrego, com medo! Segurai-me! Nisso e em busca de nossos objetivos comuns por caminhos separados. Ele sempre pediu pra que eu me erguesse, que olhasse adiante, seguisse adiante, como se eu não precisasse dele ao meu lado, como se engana meu pequeno irmão, eu te amo tanto e não estou agüentando nossos caminhos distintos e distantes, será que devo pagar por esperar o que jamais me caberá em virtude da vontade divina? Ele me assegurou fim, mas eu nunca quis acreditar, pobre ser que sou! Alertou-me:
‘’ Fim

Erga-se mais uma vez,
Parece que atrás desta porta existe algo superior ao que se oculta sobre nossas costas,
Eu vou ficar aqui enquanto o vejo ir,
Perdoe-me por prometer algo que se encontra além de meu alcance,
Aspirações em momentos humanos.

Vá em frente e encontre aquilo que tanto procuramos juntos e ao mesmo tempo separados,
Faço-o por ti, faça-o por nós,
Eu prometo que fico bem quieto,
E eu não vou chorar por você,
Fico de luto por enquanto,
Mas se um dia você voltar e perceber que eu já fui,
Não chore por mim,
Eu sei que eu encontrei a paz lá naquela escuridão.
Perdoe-me por prometer algo que se encontra além de mim,
Seu sangue carrega algo mais insensível do que pensava eu,
É mais forte do que as lágrimas de supremos sacrifícios.

Erga-se mais uma vez,
Vá enquanto eu o observo indo,
E eu não vou chorar por você,
Mas quando você voltar e ver que já não estou mais aqui não chore por mim,
Faço-o por ti, faça-o por nós,
Fico de luto por enquanto,
Mas eu não vou chorar por você,
Faça o mesmo por mim... ‘’
Me pediu tantas coisas que não posso honrar, não sou forte o suficiente pra garantir que não definharei até o último dia de minha existência. Meu irmão amado, estou angústias sofríveis, embora esperançoso e confiante a Deus que superaremos nossas fases, porém quero contar contigo ao meu lado, como sempre foi! Eu te amo e sempre estive em casa a espera que voltasse, saí, mas a espera de te encontrar, será que só em outro mundo?! É o que eu mais temo!
Éder Diego.

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