4 de out. de 2009

Triste fim.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Pablo Neruda.

Triste fim

O dedo junto à mão velozmente por oito vezes aperta tóc! E trim! trim!...
-Alô!
Decorre velozmente, em fração de segundo, tóct! E na reticência cai-se sem amparo aproximando-se a escassez de créditos.
As saudações por sua vez, breves e gostosamente cordiais levam consigo de duas a três, e vezes quatro. Toct! Tóct! Tóct!.... Toct!
Vão-se embora os ois! Os olás! E o tempo é curto junto aos seus toct!
A conversa desenrola-se rapidamente, desencadeando em seus devidos assuntos ora importantes, ora menos importantes, contudo não menos importante que o importante devido ser posto em importantíssima questão, muito importante. Em meio a tudo isso, a todo esse jogo de palavras, adversações e alternações, alternadamente: toct! Tóct! Vão-se outras.... Acabando! Oh tempo decorrente que não volta, esvai-se como nossa existência efêmera e frágil.
Juras e mentiras encadeadas em assuntos de importância revelam-nos as discordâncias e convergências entre pessoas que se aproximam e se afastam respectivamente nas interjeições, trim! tóct! Melhor ainda: Onomatopéias.
O dialogo toma rumo defendido ardorosamente por uma e questionado ironicamente por a outra, assim caminham os assuntos de nossas personagens fictícias e reais por a vida a fora, ciclicamente invertendo-se os protagonistas, os papéis, destaques, importâncias e tudo o mais.
Pendem-se apaixonadamente na sonoridade e falsa presença um do outro que não mais se percebem o fim junto aos seus tócts, os quais agora vagarosamente caem ritmamente, melodicamente fúnebre, trazendo o inevitável derradeiro, o fim! Ai meu Deus!
Tóct! Palavras doces, eis os namorados...
Tóct! Oniricamente idealizantes... Percebem-se!
É que vem chegando irreversivelmente um dos fardos adversos da vida.
Ai deus nosso! É o fim! Tóct!
Logo só resta o mínimo espaço de tempo para dizer com tamanha saudade:
- Tchau
E ele repousa o aparelho ante a imensa noite de que o aguarda solitariamente deplorando o triste fim do cartão telefônico.